“Lacração é quando a gente aceita na nossa vida um estado de maravilhosidade. É o momento de empoderamento” – Liniker, cantora e mulher trans
“LACRAÇÃO” é uma série de retratos fotográficos que protagoniza jovens do movimento artístico-político-militante LGBT+ da cidade de Jundiaí e região. Estes indivíduos evidenciam a importância das construções subjetivas e coletivas das culturas subalternas no espaço, como forma de transformar e contestar as espacialidades das quais ocupam. Nesse sentido, configura-se num ínterim dentre: visualidade e visibilidade; aparência e essência; entre os atos de olhar e perceber. São estes os vetores considerados para a construção do modelo de operação que, junto da noção de organismo vivo e da ideia de acontecimento, podem nos auxiliar na compreensão da proposta.
As fotografias são resultado de um período de reconhecimento, convivência e confiança entre a artista e os retratados, deixando fluir os movimentos expressivos dos corpos – gestos, acenos, contorções, olhares –, que ocupam o lugar do trânsito, do devir, do imponderável e do imprevisível. Diante de suas visitas aos eventos e encontros com o grupo retratado, Bella elabora o espaço reflexo daquelas personas na constituição de seus estatutos individuais temporários. Em atos fotográficos sistematizados constrói retratos desses sujeitos, em distintas temporalidades que indicam a mutabilidade de suas subjetividades, em derivas próprias. Parecer e Ser são, portanto, formuladores da persona como uma “hiperrepresentação” de si que se efetiva por meio processual, pelo acontecimento, na forma de uma epifania. O que emergiu desses retratos é uma variedade de estados emocionais: amor, êxtase, prazer, beleza, provocação, curiosidade, vaidade, timidez, confiança e poder.